Foi lembrando antigas brincadeiras que povoaram a nossa infância, que abrimos as portas do Teatro da Cidade para receber das mãos de Yara Tupynambá, o painel “O Circo”, criado especialmente para ter lugar de destaque na nossa casa.
Genial e generosa, Yara fez um mergulho no inconsciente coletivo de muitas gerações e, com seu olhar romântico, criou uma obra em homenagem as artes cênicas, com foco no irmão mais pobre desta família, mas não menos criativo que o teatro, a dança e a ópera.
E foi uma festa a inauguração deste painel na entrada do Teatro da Cidade. Foi um presente recebido com alegria por artistas de todas as gerações e lá está colorindo os dias e noites da cidade, onde deve permanecer e se somar a imensa obra de Yara Tupynambá na história dos murais por ela criados e que a consagraram como a grande muralista brasileira de nosso tempo.
Se alguém, lá no século XXX quiser saber a história de Minas Gerais e destes povos das montanhas, do ferro, ouro, diamante e das personagens mais significativas das geraes, bastará estudar a obra de Yara e fará uma viagem fascinante por séculos de imagens que contam, com beleza e detalhes, o percurso dessa gente desconfiada e trabalhadora, porque na obra da artista o humano é ponto de partida, travessia e chegada.
Minas são tantas que para retratá-la Yara Tupynambá precisaria de mais vidas.
Em uma só ela vai deixando sua marca indelével por onde passa e cria um mural, um painel, um quadro a óleo, uma gravura. Com seu estilo inconfundível, sua personalidade forte e sua criatividade incansável, marca registrada de anos de incansável trabalho, depuração das técnicas, estudos e vivência, Yara Tupynambá tem o fôlego de uma adolescente inquieta e cheia de energia.
Outro dia me enviou um recado pela imprensa: – “artista não aposenta Pedro Paulo, morre trabalhando.”
Pedro Paulo Cava
Diretor de Teatro